Amor em Platão
No livro o Banquete de Platão, Diótima
ensina Sócrates os segredos da arte amorosa. Didaticamente, compreendo da
leitura um método para o encontro com o natural estado do nosso ser, que é o
estado de amar (mas que, porém, vive adormecido). Não me refiro aqui tão somente ao amor-paixão que ocorre entre
os casais, mas as demais espécies de amor, muitas vezes mais amenos, tais como o
amor gratidão, o amor contemplativo, o amor compaixão, o amor ao belo. Se
observarmos a nós mesmos, certas coisas, situações, paisagens ou pessoas nos evocam um
sentimento de querer-bem. É, pois, especialmente a essa espécie de amor que
precisa ser entendido para o que adiante vou comentar.
Diótima ensina a Sócrates uma prática
para o encontro com esse estado de ser. Segundo ela, primeiro devemos nos dedicar a amar
aquilo que nos provoca o sentimento de “querer bem”, ou mesmo o que alimenta o
desejo, tal como uma bela pessoa do sexo oposto. Também poderia ser um animal domestico
de que gostamos. Esse sentimento de querer-bem, deve nos evocar o desejo de
cuidar, zelar, acariciar. Em seguida, após vivenciarmos o sentimento, permitindo a
expressão e expansão do amor, em atos e palavras, bem como aguçando os
sentidos, devemos procurar transferir esse sentimento a outras pessoas, coisas
ou animais, como se olhássemos a essência do ser que amamos em outras coisas. Algo
como dedicar o amor não mais ao nosso animal domestico, mas a todos os animais
da natureza. Aos pássaros que vemos cantando, até a formiga que vemos passando.
Ou então como o poeta que, inspirado pela beleza do mar, constrói sua poesia de
exaltação a Mãe Natureza.
Ao fazer isso, é preciso evocar sempre
o mesmo sentimento de amor, de querer bem. Depois, é preciso olhar a essência desse
sentimento em todas as demais coisas e pessoas, percebendo não mais apenas
seres e coisas corpóreas, mas a Alma que permeia todas as coisas.
“Eis, com efeito, em que consiste o proceder corretamente
nos caminhos do amor ou por outro se deixar conduzir: em começar do que aqui é
belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus,
de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos
para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das
ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo,
e conheça enfim o que em si é belo.”
Conclui o
ensinamento, que, seguindo essa pedagogia amorosa o ser "perceberá
uma beleza de natureza maravilhosa, aquela que era justamente a razão de ser de
todos os seus trabalhos anteriores (...) conhecerá a beleza que não se
apresenta como rosto ou como mãos ou qualquer outra coisa corporal, nem como
palavra, nem como ciência, nem como coisa alguma que exista em outra, como, por
exemplo, num ser vivo ou na terra ou no céu".
Perceberá o amor destituído do apego, do desejo, da paixão, mas o amor irradiante e profundo da nossa própria energia vital.
O Amor é a expressão da pulsação, do crescimento. Que tal experimentar?
O Amor é a expressão da pulsação, do crescimento. Que tal experimentar?