Autopercepção, Autorrespeito e Vitalidade

Um caminho de paz não é possível sem se levar em conta três pequenas (ou grandiosas) coisas: autopercepção, autorrespeito e vitalidade.

Vamos explicar.

Quando me refiro a autopercepção quero significar a conscientização de todo o processo interno que está ocorrendo conosco em dado momento. Nisso, inclui-se pensamentos, emoções e ações. Quanto mais nos distanciamos desta pratica, maior a tendencia a uma negação de toda expressão saudável. Ora, sem nos darmos conta das necessidades que nosso organismo busca satisfazer, mais distante estaremos de alcançar a satisfação dessas mesmas necessidades. E quando me refiro a organismo, estou querendo dizer todo o complexo que constituí nosso ser. Por exemplo, como posso buscar a satisfação do afeto (com a namorada, marido, mãe...) se não reconheço o sentimento de saudades em minha emoção? Ou então, como posso buscar satisfazer a sensação de fome comendo, quando na verdade o que sinto é fome de afeto? Ou quando a raiva que penso sentir do transito, é na verdade o stress acumulado depois de dias arduos de trabalho? A distancia de si mesmo faz o homem confuso. E pode não parecer, mas a confusão que fazemos é muito maior e absurda do que os exemplos citados.

É preciso sensibilidade para conosco mesmos e para com a vida. O bom pianista não é aquele que, após muita pratica e disciplina toca qualquer musica ou lê qualquer partitura, mas aquele que tem a sensibilidade de interpretar no piano a partitura que toca e tocar com emoção a sua música. A Autopercepção deve chegar ao  ponto de reconhecermos as nuanças de cada emoção, os efeitos de cada pensamento e de cada ação. A sensibilização da autopercepção nos torna aptos a sermos mais assertivos afim alcançarmos com mais eficácia aquilo que precisamos.

Da autopercepção vamos para o autorrespeito. Afinal, não basta reconhecer a necessidade que se apresenta em nós, é preciso permitir expressá-la, fazer as tentativas (que podem ser inúmeros ou infinitas) de satisfaze-lá. E nisso não estou querendo dizer realizar toda e qualquer vontade e desejo, absolutamente, não. Pois sem reconhecermos a verdadeira natureza do desejo, corremos o risco, ainda como no exemplo citado, de comer um bolo inteiro por pensarmos que sentimos fome quando na verdade o que sentimos é falta de afeto. Mas uma vez reconhecida a necessidade é preciso o respeito a si mesmo para ter a audácia de realiza-lá, mesmo que isso signifique romper com um valor, uma crença, um medo entre outros impedimentos.

Portanto, o autorrespeito deve estar intimamente ligado a autopercepção, sem que, no entanto, isso signifique que tenhamos que ter uma absoluta convicção da verdadeira intenção dos nossos desejos, mesmo porque isso não é tarefa fácil. Mas significa que, cada vontade, construtiva ou destrutiva, merece breves instantes de reflexão, como quando saboreamos um prato da nossa comida preferida. É preciso reconhecer o gosto da emoção para sabermos como atendê-la.

O exercício do autorrespeito pode começar, muitas vezes, com uma pequena vontade de sentar na grama, deitar no chão; e o que importa se for de terno e gravata mesmo? De rir como uma criança, e comer um algodão doce. São nessas coisas mais simples que resgatamos a nós mesmos, resgatamos a nossa natureza que é viver.

Dessa forma, fechamos o trinômio. Quando nos resgatamos através da autopercepção e do autorrespeito nos aproximamos novamente da nossa real natureza. Resgatamos a Vida Viva que pulsa em nós. Vemos as flores mais coloridas e que antes não percebíamos no jardim; a beleza da paisagem; a característica única e inconfundível de cada pessoa que cruzamos; sentimos o perfume gostoso da mata e o calor da primavera chegando. E isso é a nossa própria vitalidade pulsando e se manifestando de forma cada vez mais intensa.

Boa semana a todos!


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