Simplesmente Humano



É muito comum termos um medo imenso de enfrentar tudo aquilo que chamamos de mal, ruim, feio. Fugimos apressados na tentativa de esconder tudo isso do outro e de nós mesmos. Porém, ao fazermos isso agimos como um jardineiro relaxado, que temeroso dos espinhos, não cuida da roseira para que essa floresça.

Os nossos medos, erros, enganos são como os espinhos de uma roseira sem flores. Embora a roseira sem flores não inspire os sentidos e apresente perigosos espinhos, como esperar o desabrochar das rosas sem o trato contínuo do espinheiro pelo jardineiro? O espinheiro encerra em si o perfume e a beleza da rosa. E basta o cuidado para que a roseira exale na sua hora o doce perfume da rosa. 

Somos, por ora, tal qual a roseira repleta de espinhos. Não deprecie os espinhos, não critique o espinheiro. Mais do que poda, precisamos de zelo e cuidado. Compartilhemos com a vida o mistério de sermos espinheiros e jardineiros de nós mesmos.  Não menospreze a si e tão pouco aos outros pelos espinhos. Em cada um de nós se encerra uma beleza maior que todas as flores.

Cultivemo-nos como faria um jardineiro. Temos algo único, cada um, a oferecer ao mundo. A hora do nosso desabrochar é um mistério, mas não nos isenta de fazermos a nossa parte. É preciso cultivar e encontrar esse tesouro único dentro de si mesmo. 

Entretanto, o que é esse tesouro? É a nossa mais pura humanidade. O que nós temos de mais humano. Não esse humano encouraçado. Mas aquele, muitas vezes esquecido, que chora por um belo filme, que se sensibiliza e é puramente sincero. Não aquela sinceridade que esconde veneno. Mas aquela capaz de nos mostrar tal qual somos na grandeza e na pequenez que nos constitui.  No belo e no feio. Humilde perante os próprios espinhos, e imensamente reverente perante nossas virtudes e perfumes.

Sejamos, pois, apenas verdadeiramente humanos, com todo zelo, mesmo que não tenhamos, ainda, nos convertido em flores.



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